Quem conhece minha história, amigos, leitores dos meus livros, do meu blog, inscritos do meu Youtube e afins, sabe muito bem que eu já fui cristão e frequentei muito a Igreja Católica em minha adolescência. Após ingressar no curso de psicologia (minha primeira faculdade) eu acabei, no mesmo período, me apaixonando pelo meu melhor amigo. Toda essa narrativa da minha vida, minhas descobertas, confusões, dúvidas e demais informações eu conto no meu livro sobre a homossexualidade e saída do armário chamado O Armário, lançado de forma independente em 2006.
Aliás, é neste mesmo livro, por exemplo, que eu cito da onde vem tanto preconceito histórico e essa condenação de algumas religiões baseadas nas escrituras hebraicas onde, desde aquela época, todo o sexo feito sem a finalidade de procriar era considerada pecado. Inclusive a masturbação que, ao logo da história da humanidade, foi até respaldada no início da ciência por livros médicos (de poucas décadas atrás) que confirmavam esse erro de interpretação da vida dizendo que a masturbação provocava perda de sangue e era o principal motivo do desenvolvimento da epilepsia.
Um grande engano. E que continuam errando, e errando feio, até os dias de hoje. Afinal, sabemos que a masturbação não tem relação alguma com a epilepsia e nenhuma outra doença. Ela é uma prática até saudável – além de prazerosa – em muitos dos casos (não tem problema algum masturbar-se, tá?). Mas, como eu bem digo no meu primeiro livro escrito e publicado (hoje referência quando se trata sobre as questões sobre a homossexualidade – quem puder leia: tem versão digital ou impressa aqui), se esses erros da religião sobre a sexualidade ocorreram até mesmo na ciência sobre a masturbação, imagina então sobre a homossexualidade? Ainda mais quando pensamos em educação sexual onde, de fato, não temos nenhuma (a família diz que é obrigação das escolas, as escolas, obrigação das famílias e ai jovens acabam aprendendo de seus pais aquilo que nem eles entendem direito porque também nunca receberam educação sexual de forma correta).
E, no meio disso tudo, em pleno ano de 2021, as atrocidades, falta de informação, intolerância e discursos LGBTfóbicos continuam a todo o vapor. Seja pelo cristianismo ou qualquer outra religião. Vale dizer, por exemplo, que em São Paulo há poucos anos tivemos uma ONG evangélica chamada MOSES que por quase 15 anos curavam, descaradamente, homossexuais em fazendas religiosas e ela só teve suas atividades encerradas por conta de ter um de seus fundadores, o querido Sérgio Viula, ter ido parar na capa da revista Época dizendo que ele não suportava mais tanta mentira, que a cura de fato nunca existiu e que o grupo era uma grande farsa (já que muitos religiosos que promoviam a cura também praticavam orgias gays entre eles de forma escondida). A parte boa é que esse enredo todo serviu de base para um dos meus outros livros, que hoje faz tanto sucesso quanto, onde eu narro a vida de um jovem que também é internado em uma destas fazendas de cura gay (desculpe, mas quem puder, leia também meu romance homoerótico chamado THEUS onde tem este enredo).
Nesta “bagunça religiosa” com relação a sexualidade humana, ainda hoje, muitos LGBTS sofrem. E sofrem muito. Por conta de discursos como estes vindos do Vaticano e autorizados pelo Papa atual, por mais que ele seja moderno, não é. Como já disse o querido amigo, escritor e militante João Silvério Trevisan em entrevistas, é como se a Igreja Católica quisesse, a todo o momento, eliminar no outro a sua própria homossexualidade reprimida visto que hoje – por exemplo – o Vaticano tem uma das maiores comunidades gays do mundo (se quiserem, leia o livro No Armário do Vaticano – Poder, Hipocrisia e Homossexualidade).
Por estas e outras que eu escrevo essa Carta Aberta em meu nome e em nome do meu companheiro Alex Viana, que juntos, completamos 18 anos neste ano. São 18 anos de uma vida intensa, com seus altos e baixos, regados de muito amor, companheirismo e felicidades onde nossos amigos e familiares sempre nos acompanharam. Nossa vida não é pecado. Não somos aberrações. Somos seres de luz. Somos pessoas que viemos pra este mundo e que, como todas as outras, queremos paz, trabalho digno, felicidade, convivência harmoniosa e – por conta de tudo isso – não precisamos da benção de ninguém pra isso. Aprendemos que nós já somos a própria benção por natureza. E, embora eu não possa ser porta-voz de todas as pessoas LGBTs, sinto fortemente que muitas delas sintam exatamente o que eu sinto quando o Vaticano ou outras religiões condenam publicamente a homossexualidade e homossexuais de forma perversa e ingrata. Afinal, sabemos – pela ciência inclusive – que a homossexualidade nada mais é que uma vertente saudável da sexualidade humana.
Então, essa Carta Aberta que publico aqui no meu blog é pra dizer que nós (eu e meu companheiro), e suspeito que muitos LGBTs, realmente não precisamos dessa aprovação, desta “benção” pra sermos felizes. Nunca precisamos. E não será agora que vamos precisar. Quem concorda comigo, compartilha essa carta aberta. Vamos mostrar ao mundo que somos felizes do nosso jeito. Não somos melhores e nem piores do que ninguém. Apenas temos nossas peculiaridades com nossos gostos e prazeres. E muita gente que nos conhecem (amigos, familiares, leitores, etc), sabem disso.
Atenciosamente,
Fabrício Viana
www.fabricioviana.com
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Jornalista, Blogueiro e Escritor Premiado.
