O que eu sempre escuto dos jornalistas quando me ligam para me entrevistar sobre meus livros, especialmente sobre O Armário (sobre a homossexualidade e os processos psíquicos que envolvem a “entrada e saída do armário”) é que o mundo mudou. Que estamos mais tolerantes e falando mais sobre a homossexualidade.
O que eu digo pra eles é que não é bem assim. Uma pesquisa recente, que inclusive coloco no livro, feita em uma universidade no Rio de Janeiro com adolescentes sobre o tema é que eles pensam exatamente como nossos avós. Falamos mais? Temos mais visibilidade? Temos conquistas? Sim. Mas o mundo ainda é cheio de preconceito e LGBTfobia, especialmente nas escolas e dentro das próprias famílias. Foi o que aconteceu recentemente com o jovem Yago Oliveira, que postou nas redes sociais um desabafo sobre sua família e em seguida se matou.
Morador de João Pessoa (PB), Yago sofria preconceito de todos, especialmente de sua mãe extremamente religiosa. Dois meses antes de cometer suicídio, ele fez um longo desabafo no Facebook:
No dia 14 de Março Yago foi encontrado morto dentro do quarto enforcado. A polícia registrou como suicídio. Entre diversos comentários no Facebook do garoto, o comentário da mãe dele (dado com exclusividade ao portal Mixturando) foi o que mais surpreendeu a todos:
“O Homem lá de cima atendeu meu pedido, prefiro um filho morto do que vivo e pecador, seria uma eterna vergonha e uma desonra sem tamanho”
Casos como o dele, como eu disse acima, são ainda muito comuns. Lembro-me até de um rapaz, adulto, gay, que mora sozinho e com quem trabalhei recentemente, que disse que no grupo do whatsapp de família dele, todos estavam criticando homossexuais e isso o tinha deixado muito triste.
Então, o mundo mudou sim. Mas o preconceito e discriminação ainda existem e podem ser bastante cruéis. Não por acaso, meu outro livro, um romance gay chamado THEUS, baseado em fatos reais de fazendas religiosas que curavam gays aqui no Brasil, faz também muito sucesso: é impossível um leitor, gay, não se identificar com diversas partes (aliás, os comentários de leitores na Amazon Brasil são incríveis).
E para quem acha que estamos evoluindo, engana-se, pois políticos religiosos estão aí, criticando gays de forma fervorosa: promovendo o ódio e não o amor que tanto pregam. Nesta luta, todos perdem. Infelizmente.